Fim

A Praça Onze vista de cima parecia uma maquete. Vazia, limpa, organizada e artificial como uma maquete.
O play do prédio da frente com sua piscina destacada fazia com que eu o comparasse a um hotel qualquer que possui área de lazer. A churrasqueira ali tão bem posicionada à direita me transmitia uma sensação de felicidade, mesmo que eu estivesse longe, olhando de lá de cima, do décimo primeiro andar e não tendo acesso a nada.

Se eu tivesse visto aquela piscina e aquela churrasqueira como apenas dois objetos de uma área de lazer de um prédio residencial, nenhuma sensação eu teria sentido. Mas foi exatamente a conotação de hotel que eu dei àquele play que me fez sentir felicidade. Imaginei uma viagem, um futuro, imaginei uma felicidade e em seguida a senti.
E então fechei a janela e voltei pra vida. E ela havia ficado bem melhor desde então.

Tia Dirce

Quando eu era menor, meu maior sonho era poder estar em dois lugares ao mesmo tempo. Não digo literalmente, porque isso eu fiz muitas vezes, e também achava o máximo colocar um pé na sala, outro na cozinha, um pé no quarto, outro no corredor, ou então nas divisas dos estados que são cortados pela BR 101.
Digo que gostaria de estar em certo lugar, poder fechar meus olhos e quando abrir, imediatamente poder ver um outro lugar, o lugar que eu quisesse. Mas com os olhos abertos, não fechados, porque com os olhos fechados eu posso ver o que eu quiser. Mas isso nunca foi possível, e hoje eu entendo que vai continuar não sendo.
E assim decidi estar de olhos abertos no maior número de lugares no menor espaço de tempo. Esse foi o mais perto que consegui chegar do meu sonho de 15 anos atrás.