segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Feliz dia das criança!

Se tem algo que eu me lembro da minha infância, é do dia que eu estava assitindo TV com a Selma (uma prima da minha mãe que tava morando na minha casa, mas que minha mãe mandou embora, pois Selma ficava andando pelada por aí e isso era uma falta de respeito, se não foi por isso, foi algo parecido).
Então, estávamos eu e Selma assitindo TV, novela, e ela disse: "Robertinha, é amanhã que o Fábio Jr. vai aparecer pelado na novela, a gente não pode perder!"
Eu tinha 5 anos, e você, mulher, que já teve 5 anos, sabe que essa era aquela fase que você pegava suas bonecas e tentava ver o que tinha embaixo do vestido delas, tudo era uma novidade pra você. E você, homem, que já teve 5 anos, sabe que essa era aquela fase que você pegava seus bonecos do Batman e tentava tirar a capa deles.
Bom, a parte dos homens eu não sei se era assim, mas carrinho não tem roupa, não inventaram video game de strip tese, e os bonecos vem com roupas coladas no corpo, só sobra mesmo isso de tentar tirar a capa do Batman.
Então, eu queria ver se o Fábio Jr. era igual as minhas bonecas, sabe? Uma espécie de busca pela afirmação.
Fiquei muito ansiosa pelo dia seguinte da novela, e quando o dia finalmente chegou, Selma, é claro, me levou pra sala pra assistir o Fabio Jr. pelado na novela. Estávamos muito felizes e cheias de expectativa, quando o que acontece?
O Fábio Jr. aparece de cueca.
Fiquei muito decepcionada, sabe? Eu queria ver o Fábio Jr. pelado só por uma questão de busca pela afirmação, e nem isso ele fez por mim.
Mas aí a gente cresce, amadurece, descobre que boneca é só boneca, que o Fábio Jr. é só o Fábio Jr, e que principalmente, eu sou muito grata ao Fábio Jr. por ele não ter aparecido pelado. Já tenho muitos traumas de infância, não precisava de mais esse. Te digo isso porque já me afasto dos pontos de ônibus que tem foto do Fábio Jr. todo bem vestido fazendo propaganda dos shows de fim de ano dos Supermercados Guanabara, imagina só ele pelado, eu ia ser obrigada a lembrar disso pra sempre. Seria um clássico desastroso em minha vida, algo parecido com a Playboy da Claudia Ohana na vida dos meninos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sou idiota, mas era bem mais

Uma vez meus coleguinhas iam eleger o aluno mais idiota do colégio, aí levei um bolo de aniversário e taquei na minha cara na frente de todos, só pra verem como eu era idiota e merecia ganhar o concurso.
Mas não ganhei, não lembro porque, certamente alguém resolveu levar fanta laranja e colocar na própia calça pra fingir que era xixi ou algo parecido, então ganhou. Mas já que perdi, resolvi fazer outro concurso, quem bebesse mais água seria o mais forte, já que o de idiota eu já tinha perdido, propus esse. E ganhei. Qual era o prêmio da vitória, advinha?
Uma caixa de fósforos... com uma barata dentro... viva. (pode crer que meus coleguinhas eram tão idiotas quanto eu)
O irônico é que até hoje creio que sou forte, mas o duro é acreditar que ninguém é forte por beber água, até porque todos precisam de água, não é uma questão de escolha "escolhi ser forte, escolhi água mineral", é uma questão de necessidade.

Bom, o menino que eu gostava, o Carlos Henrique, era gay. Minha melhor amiga morava em Cordovil e usava luva de lã, suspeitava que era vitiligo, algo do gênero.
Eu sonhava em ser atriz, eu tinha 9 anos, eu tinha 9 anos! Aí escrevi uma carta pra essa minha amiga, Ana Luiza, dizendo: "Ana Luiza, quando eu for uma atriz famosa com minha banda de pagode aos meus 20 anos, quero você falando de mim no Faustão". (escrevi isso com 9 anos, não hoje, acho que não deixei claro)
Eu inventava que tinha uma banda de pagode, e mentia por aí pra exercer minha profissão imaginária de atriz, dizia que meu avô era rei da Espanha, que conhecia o pessoal do Karametade, que tinha leucemia e etc.
Sendo que meu avô sempre foi um índio de Alagoas e as únicas doenças que tenho são bronquite, sinusite e rinite. Já quanto a banda de pagode...
...era mentira, COM A GRAÇA DO DIVINO.
Tava pensando nisso agora, sabe, decisão arriscada essa de a minha mãe não ter me levado num psiquiatra naquela época, porque diabos ela confiava tanto em mim a ponto de ter certeza de que todas essas minhas imbecilidades iram acabar um dia?
Eu só era legal com meu avô Roberto (esse não é o índio, esse é o outro) e com meus primos. Mas até com eles tive uma fase louca, lembro que uma vez peguei uma bicicleta, 20 centavos, um anel azul quebrado, e fugi, lá em Muriqui, fui parar muito longe, maluco, numa linha do trem com uns cavalos brancos, uma cachoeira. Pensei que fosse um filme, tive medo. Então voltei e nunca mais fugi, só da faculdade esse ano.
Eu também tinha uma de roubar os cremes da minha vó, passar os cremes de cabelo, no olho, os do rosto, no cabelo, os de corpo, no rosto. E eu sabia que tava errado, eu passava assim porque queria, questão de independência, escolha própia, nem pela indústria dos cosméticos e nem pela minha própia beleza e juventude eu iria seguir regras. Sim, eu era idiota.
Mas aí eu cresci, e acho que me tornei uma pessoa legal.
Nem mentir mais eu sei, sou do bem.
Mas sei lá, talvez eu não minta mais porque não preciso, minhas verdades se tornaram inacreditáveis, não preciso mais mentir pra transmitir emoção, a emoção tá nessas verdades, eu acho.
Eu acho, acho.