quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mas não falemos sobre isso, não é mesmo?

Meu pai era surfista profissional e minha mãe me levava na cartomante quando eu tinha 7 anos.
Eu me lembro que às vezes a cartomante vinha aqui em casa também, ela falava pra eu fechar meus olhos e fazer um pedido, então eu me concentrava de olhos fechados e perguntava :"será que o Carlos Henrique da primeira série um dia vai gostar de mim?", e quando abria meus olhos ela me vinha com uma carta na mão falando: "tem um ar de incerteza na sua pergunta, talvez isso que você tá pedindo aconteça sim!"
Naquela época eu não sabia o que era incerteza, se eu soubesse, teria respondido à ela dizendo que se eu tô perguntando algo, deve ser porque eu não sei a resposta, logo, é impossível que haja alguma certeza nisso.
E então, na verdade o futuro, não a cartomante, acabou me dizendo de maneira trágica que o Carlos Henrique não gostava de mim, nem nunca iria gostar, ele "se tornou" gay. Essa foi minha primeira frustração amorosa.
Mas não falemos sobre isso, não é mesmo?
Como eu tava dizendo, meu pai era surfista profissional, hoje em dia ele só surfa quase todo dia, tá mais tranquilo. Eu me lembro de quando ele me buscava no ballet e me colocava na caçamba da caminhonete junto com a prancha e falava: "bora pra praia!", e era muito digno ir à praia com meu pai, eu, uma criança de 7 anos com vestidinho de ballet ficava sentada na areia esperando ele resolver parar de surfar, umas 2 ou 3 horas depois. Às vezes ele me dava a chave do carro pra eu ficar refugiada lá dentro, ele parou de dar no dia em que eu tentei sair com o carro e quase causei um acidente. O que é uma hipocrisia total, porque quando a gente viajava pro Nordeste, logo nas estradas mais esburacadas e pontes de madeira de 2 metros de largura, ele me colocava com apenas 7 anos no colo dele pra guiar o carro. Eu e meu pai temos uma relação cheia de traumas relacionados a carros, mas não falemos sobre isso, não é mesmo? Pelo menos minha mãe sempre foi contra meu pai dirigir, sempre. Tanto que em 1998 fomos do Rio à Fortaleza e de Fortaleza pro Rio de carro, com meu pai dirigindo.
Eu também tenho uma irmã, mais velha, filha só da minha mãe, do primeiro casamento, ela tem 26 anos e casou há 2 anos, tornou-se crente fervorosa porque o marido dela é um crente fervoroso também. Mas quer saber como eles se conheceram? Bom, eles se conheceram no trabalho, normal e tal, só que no dia seguinte ao que se conheceram eles começaram a namorar, e 4 dias depois ele a pediu em casamento, em uma semana eles estavam de casamento marcado, e em 2 meses se casaram. E olha, vou te contar, nunca vi um casamento dar tão certo. Minha irmã virou tiposs um anjo assim, tá tudo lindo.
Ah, eu tenho uma prima de 3° grau que foi presa, fugiu da prisão e resolveu ficar refugiada em Portugal.
Minha melhor amiga já foi presa também, deportada.
E eu tô aqui, tendo que aceitar que a maior excentricidade ja vivida por mim até hoje, foi entrevistar uma puta no puteiro.
Mas não falemos sobre isso, não é mesmo?

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